Folha de São Paulo, 21 de Setembro de 1999

Fiel Transcrição:

ADMINISTRAÇÃO Ao atacar ex-ministro, governador diz que, se fosse roubar, não o faria na capital devido à concorrência

Covas vê corrupção 'enorme' em Brasília

 
se quisesse roubar, roubaria em São Paulo e não em Brasília, onde, segundo ele, "a concorrência é enorme".

CLÁUDIA TREVISAN da Reportagem Local

O governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB), respondeu ontem as acusações de tráfico de influência feitas pelo ex-ministro Renan Calheiros (Justiça) com um argumento que considera "lógico": se quisesse roubar, roubaria em São Paulo e não em Brasília, onde, segundo ele, "a concorrência é enorme".

Quando confrontado com o fato de que estava fazendo uma acusação contra um governo de seu partido, o PSDB, Covas respondeu: "E daí? A acusação que me foi feita também não partiu de um aliado do governo?".


Calheiros, que reassumiu sua cadeira no Senado depois que saiu do ministério, acusa Covas de defender a transferência da inspeção de veículos para os Estados com o objetivo de favorecer determinadas empresas.

Covas disse que nunca conversou com o ex-ministro sobre o assunto, mas afirma que sempre defendeu a transferência. O governador afirmou que a transferência permitiria que a inspeção de veículos fosse feita com o controle ambiental, que é uma atribuição dos Estados.

Covas chamou Calheiros de "pivete" e "figura menor" e insinuou que ele é "ladrão": "Coloque nós dois um uma sala com mil pes soas e pergunte qual dos dois é o ladrão para ver como é que elas respondem".

O governador classificou de "sórdida" a maneira como Calheiros se referiu a seu filho, Mário Covas Neto, na carta em que fez suas acusações, enviada ao presidente Fernando Henrique Cardoso. No documento, o ex-ministro chama o filho de Covas de "um certo Zuzinha" —apelido de Mário Covas Neto.

Covas deu as declarações minutos depois de participar da cerimonia do Yom Kipur, o Dia do Perdão judaico. "Tenho plena capacidade de entender o perdão e concedê-lo até mesmo a quem comete injustiças", disse Covas no discurso que tez na cerimônia.

Calheiros também afirma que Covas teve interesses contrariados pelo fato de o Ministério da Justiça ter cancelado a licitação para reformulação de passaportes —vencida por consórcio do qual fazia parte a empresa Tejofran, de propriedade de Antônio Dias Felipe, amigo do governador.

Outro lado

O ex-ministro Renan Calheiros rebateu as 

acusações de Covas, atacando novamente o filho do governador. "Está demonstrado que ele (Covas) realmente não entende de pivete. Pivete é o tal Zuzinha, uma espécie de chuva ácida que tem provocado a corrosão moral de Covas."

"Ele (Covas) continua fazendo propaganda enganosa de candura, mas quem o conhece sabe que ele não tem limites", afirmou.

O porta-voz da Presidência, Georges Lamazière, afirmou ontem que o presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu a carta do ex-ministro com denúncias contra o governador Covas.

Segundo o porta-voz, FHC encaminhou a carta ao ministro da Justiça, José Carlos Dias, que considerou que não era necessário tomar medidas sobre o assunto.

Tucano quer transferir

autuação da Reportagem Local

O governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB), afirmou que entrará com ação na Justiça para tentar transferir ao governo federal a responsabilidade pela autuação de R$ 2,8 bilhões que a Receita aplicou no Banespa. Segundo Covas, a autuação decorre de atos praticados durante o regime de intervenção federal no banco, decretado em dezembro de 1994 e em vigor até hoje.

"Não estou discutindo a multa, não sei se ela é devida ou não. Meu problema é saber quem a fez", afirmou.

A intervenção federal no Banespa foi decretada na véspera da posse de Covas. Ele disse que, desde então, toda a administração do banco passou para o âmbito do Banco Central e do Ministério da Fazenda.

"Imaginei que essa gente fosse craque e fosse resolver os problemas do banco. Não foi para isso que entraram? Mas eles acabaram criando a maior multa que já se aplicou no país", disse. Para ele, é "óbvio" que a responsabilidade pela autuação é do governo federal.

A autuação da Receita complicou ainda mais o processo de privatização do Banespa. Inicialmente prevista para o ano passado, a venda só deverá ocorrer no próximo ano.

Outro fator que dificulta a privatização é a dívida de RS 2,7 bilhões da Prefeitura de São Paulo com o Banespa.

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