O brasil sexta-feira, 4 de fevereiro de 2000
FOLHA DE S. PAULO
Fiel Transcrição:
SISTEMA FINANCEIRO Dono do Banco Marka é acusado de gestão fraudulenta e co-autoria em crime de peculato
Cacciola depõe e também é indiciado
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Editora de Arte/Folha Imagem free-lance para a Folha O delegado da Polícia Federal Luiz Pontel indiciou ontem o dono do Banco Marka, Salvatore Cacciola, sob acusação de gestão fraudulenta e co-autoria no crime de peculato. O banqueiro prestou depoimento por duas horas, na sede da Polícia Federal no Rio. Após o término do inquérito, a polícia encaminhará suas conclusões ao Ministério Público, que então decidira se apresenta ou não denúncia contra Cacciola ou até mesmo se pede novas investigações. A pena prevista para o crime de peculato é de 2 a 12 anos de reclusão e, para gestão fraudulenta, de 3 a 12 anos. José Carlos Fragoso, advogado de Cacciola, disse que o delegado não conseguiu explicar o motivo do enquadramento de Cacciola no suposto crime de gestão fraudulenta. "Esperamos que no inquérito os motivos sejam explicados." Segundo Fragoso, as duas horas de depoimento foram divididas entre "conversas de informalidade" e questionamentos sobre duas viagens que Cacciola fez ao exterior no ano passado, com destino à Europa e ao Uruguai. Fragoso afirmou que a viagem a Europa foi a turismo e ao Uruguai, a negócios. O advogado disse, ainda, que o delegado teria afirmado estar convicto de que houve irregularidade e desvio de dinheiro público na operação do Banco Central em janeiro de 99. Na época, quando o real foi desvalorizado com relação ao dólar, o BC vendeu a moeda norte-americana a preços abaixo das cotações de mercado para os bancos Marka e FonteCindam. O objetivo era que as instituições cumprissem seus compromissos no mercado. O BC alegou que a ajuda foi para evitar uma "crise sistémica" no setor financeiro. Cacciola não quis falar sobre o seu depoimento, limitando-se a divulgar uma nota na qual afirma que não houve "qualquer conduta fraudulenta ou temerária por parte de sua direção" no Banco Marka. Ele disse que "jamais praticou peculato". Segundo a nota, "tudo o que ele fez" foi comunicar ao BC que estava em dificuldades. A nota afirma ainda que a solução encontrada, da liquidação imediata e instantânea do Banco Marka, foi do BC, "como não poderia deixar de ser". A então diretora jurídica do Marka, Cinda Costa e Souza, também prestou depoimento ontem na PF. Ela foi indiciada sob acusação de co-autoria de crime de peculato, mas saiu sem falar. Ontem também foi indiciado sob acusação de tráfico de influência o economista Luiz Augusto de Bragança. Ele alegou que só falará em juízo. Já foram indiciados nesta |
semana Luiz Antônio Gonçalves, ex-presidente do FonteCindam, Francisco Lopes, ex-presidente do BC, e o economista Rubem Novaes. Entenda o caso: O que é investigado • Em jan.99, no auge da crise que levou à desvalorização do real, o BC vendeu dólares a preço abaixo do mercado para os bancos Marka e FonteCindam. A justificativa: evitar uma quebradeira geral. A CPI dos Bancos levantou o valor da ajuda, R$ 1,5 bi, e pediu investigação • O Ministério Público Federal e a Polícia Federal apuram se os donos dos bancos praticaram crime de gestão temerária e se Lopes usou indevidamente dinheiro público em favor deles. Economistas ligados a ambos são investigados por suposto tráfico de influência Os indiciados Salvatore Cacciola - dono do Marka • Pediu e obteve do BC ajuda após a desvalorização do real, argumentando que o banco quebraria se tivesse de honrar contratos de venda de dólar no mercado futuro •Teria dito a investidores que possuía 'informações privilegiadas' dentro do BC •Pouco antes da operação teria enviado US$ 13 mi ao exterior Rubem Novaes - economista •Teria sido apontado por Cacciola como intermediário entre o dono do Marka e a fonte de 'informações privilegiadas' que possuiria dentro do Banco Central Luiz Augusto Bragança - economista •Teria viajado a Brasília com Novaes e Cacciola em 13.jan.99, quando o banqueiro pediu ajuda ao BC. No dia seguinte teria discutido o caso com Francisco Lopes Francisco Lopes - presidente do Banco Central na época do socorro. •Há suspeitas de que, já no BC, tenha continuado atuando no mercado financeiro por meio da Macrometrica, empresa da qual era sócio até entrar no governo, em 95 Luiz Antônio Gonçalves - ex-presidente do FonteCindam •Teria sido beneficiado na operação. Cintia Costa e Souza - diretora da área jurídica do Marka •Seria a proprietária, segundo senadores da CPI dos Bancos, de uma fita com conversas gravadas que poderiam ajudar nas investigações; ela nega O dono do Banco Marka, Salvatore Cacciola, ontem, na PF |